quinta-feira, 29 de julho de 2010

INTERESSANTE.


Eco nascimento: O ambiente da criança que vai nascer


Uma vez que você compreenda que o ambiente afeta a criança que vai nascer, você vai entender que a paz na Terra começa com as mães. O ambiente inclui a vida antes do nascimento, no ventre, a saúde emocional da mãe e as práticas de nascimento que serão escolhidas ou impostas à mãe.

Vida pré-natal no útero
Nós adquirimos nossos genes na concepção. O ambiente do útero determina os genes que serão expressos e os que serão silenciados, definindo já no útero ao que estamos expostos tanto física como psicologicamente. Sabemos que as substâncias químicas, drogas, álcool e outros atravessam a barreira da placenta e entram no sangue do bebê. Sabemos que as doses toleradas pela mãe são overdoses para o feto, cujo fígado imaturo não consegue desintoxicar o sangue. Um estudo entre recém-nascidos na Flórida, E.U.A., encontrou 187 produtos químicos sintéticos no sangue do cordão umbilical de recém-nascidos.

O trabalho de Bruce Lipton, biólogo celular da Escola de Medicina da Universidade de Stanford, E.U.A., mostra que o sistema de processamento das informações da célula é a membrana celular, que age como um cérebro minúsculo! O ambiente, que opera através da membrana celular, controla o comportamento e a fisiologia da célula, ligando e desligando os genes. Em sua pesquisa, Dr. Lipton demonstra que o ambiente inclui a mente subconsciente, que ele define como um banco de dados dos hábitos adquiridos, começando com as crenças primárias formadas durante a gravidez que permanecem na infância. Através dessas crenças, nós participamos energicamente da atividade dos nossos genes e fazemos isso por toda a nossa vida sem saber que nossas emoções, pensamentos e estilo de vida influenciam nossa genética e a genética dos nossos bebês.

Michel Odent, obstetra francês, Thomas Verny, MD, entre outros pesquisadores em saúde perinatal, atestam de maneira convincente que o que se forma, à medida que o feto está se desenvolvendo dentro do útero, são amplas e profundas tendências, tais como uma sensação de segurança e auto-estima. A partir dessas tendências, personalidades específicas são desenvolvidas na infância mais tarde. Por exemplo, um bebê pode nascer ansioso e com medo. Mais tarde, essa ansiedade pode gerar a timidez. Ou um bebê pode nascer saudável e descontraído. Uma personalidade otimista e confiante pode ser desenvolvida a partir disso. Esses fatores têm tudo a ver com a nossa sociabilidade e a nossa capacidade de amar.

Saúde emocional da mãe
Nos tempos antigos, a saúde emocional da mulher grávida era responsabilidade de todos na comunidade, porque todos entendiam que a atitude de uma mãe contribuía significativamente para a saúde do seu bebê. Em outras sociedades, era tradicional não deixar uma mulher grávida ouvir más notícias. Além disso, dizem que nunca se deve discutir com uma mulher grávida. Mas se você o faz, dê a ela a última palavra! Nos velhos tempos, no Japão, as mulheres praticavam Taikyo, ou “treinamento do útero”, uma forma de atenção pré-natal à saúde mental e espiritual da mãe. Na minha prática como parteira, peço que meus clientes prestem atenção aos seus pensamentos mais íntimos, que reflitam somente sobre os pensamentos que são encorajadores e pacíficos, dando fim a conversas com pessoas que têm medo do parto. A ciência moderna tem mostrado que se uma mulher grávida está deprimida, ela segrega um elevado nível de cortisona, o que deprime o crescimento do cérebro do feto. Se ela está com medo, ela segrega altos níveis de adrenalina. Sempre que alguém faz, pensa ou diz alguma coisa, esses atos não se encerram por ali. Pelo contrário, deixam marcas no corpo e na mente. Isso deve ser a prioridade número um de todos os envolvidos no cuidado pré-natal (incluindo a própria mãe) para cuidar da saúde emocional de mulheres grávidas.

Práticas do Nascimento
Aqui está um exemplo de uma prática de nascimento que tem efeitos a longo prazo sobre o sistema imunológico do bebê. Nos últimos anos, aprendemos a importância dos microorganismos que vivem no nosso aparelho digestivo ou da flora intestinal para a nossa saúde. Talvez sabendo disso, você coma iogurte com bactérias ativas. Talvez lhe interesse saber que o bebê dentro do útero é estéril, livre de germes. Antecipando o futuro, a natureza fornece para o feto, através da placenta, anticorpos (imunidade) para a maioria dos microorganismos que vivem na superfície do corpo da mãe. Quando o bebê nasce, através da vagina ou por cesariana, imediatamente ele é cercado por enxames de quaisquer microorganismos que são predominantes e conseguem chegar a ele primeiro. Os micróbios que têm acesso ao recém-nascido entram no seu nariz, olhos, boca, sistema digestivo, pulmões e pele. Segundo Odent, a população dos microorganismos do recém-nascido determina 80% da eficácia do sistema imunológico para o resto da vida. Ter um bebê por cesariana evita contato com a vagina e o períneo da mãe, que são abundantemente povoados por microflora. Na sala de cirurgia, o bebê geralmente é levado para perto do rosto da mãe para ela olhar para ele e depois levado depressa até a mesa aquecida para ser limpo e envolto em um cobertor. Pode levar horas até que a pele da mãe fique em contato com a pele do bebê. A essa altura, o bebê foi colonizado por microorganismos predominantes do hospital. É um cenário perfeito para a baixa resistência a doenças e o surgimento de alergias, asma, etc. assim como infecções mais imediatas.

Um índio americano, chefe da tribo Iroquois, certa vez disse: “Em cada deliberação, devemos considerar o impacto sobre a sétima geração, para que nossos netos, bisnetos e tataranetos tenham os mesmos recursos e oportunidades para a saúde que nós desfrutamos agora”.

parto humanizado é opção de gestante que quer maior contato com bebê

Foto: Divulgação Zoom Enfermeira da maternidade do Hospital Universitário da UFSC faz massagem em gestante para aliviar as dores físicas antes de parto normal

Enfermeira da maternidade do Hospital Universitário da UFSC faz massagem em gestante para aliviar as dores físicas antes de parto normal

Karina Gomes

cidades@eband.com.br

Após 12 horas de trabalho de parto, Tereza Cristina de Araújo, 33, estava exausta. O planejado era Isabela nascer em casa, mas a menina que hoje tem 5 anos, veio já na 34ª semana de gestação. “Senti as contrações e, como ela era prematura, teve que nascer no hospital. Mas o parto não deixou de ser normal”, disse.

Na sala de parto do Hospital Santa Catarina, em São Paulo, Cristina tentou várias posições para dar à luz o bebê esperado. No limite do cansaço, sua doula, acompanhante de gestantes que oferece apoio físico e emocional no pré e pós-parto, aconselhou: “vamos ao banheiro. Ficar embaixo do chuveiro vai ajudar na dilatação”. Sozinhas, Ana Cristina Duarte tentava acalmar a gestante recomendando que fizesse exercícios de respiração, enquanto a água quente que caia sobre seu corpo a ajudava a relaxar e acelerar o trabalho de parto.

“Lá, eu fiquei mais tranquila. A Cris me falou, ‘vai, você vai conseguir’. Fiz mais uma força e a cabeça da nenê saiu! Depois disso, os médicos entraram e puxaram minha filha. Ela nasceu ali mesmo, no banheiro do Hospital Santa Catarina! Meu marido cortou o cordão umbilical e a Isabela já ficou no meu colo. Foi muito emocionante”, contou.

A experiência de Tereza reproduz o parto humanizado. “O bebê nasce e já tem um contato imediato com a mãe, e o pai corta o cordão umbilical para já ter o sentimento de vínculo paterno”, explicou a chefe de ginecologia e obstetrícia do Centro de Parto Normal do Hospital de Itapecerica da Serra, Sheila Aparecida da Rocha. “Durante o parto, a gente deixa a paciente escolher a posição mais confortável para que o parto aconteça da forma mais natural. O bebê só é examinado pelo neonatologista após a primeira interação entre mãe e filho. Ele é amamentado e após uma hora de vida recebe medicação e vacinação”.

De acordo com o coordenador da equipe de obstetrícia do Hospital Santa Catarina, Eduardo Watanabe, os partos humanizados são recomendados pela OMS (Organização Mundial da Saúde). “É mais vantajoso para o bebê. Mais de 90% dos partos podem ocorrer em casa e 10% complicam de alguma forma e precisam de intervenção cirúrgica”, disse.

“Nesse tipo de parto, nós temos que assumir as etapas e não passar tudo para o médico. Optei pelo parto natural por causa dos benefícios para o bebê, que me encantaram. Enfrentei meus medos para fazer o bem para o meu filho”, disse Alexandra Swerts Leandro, 37, produtora cultural, grávida de seis meses do segundo filho. O primeiro, Felipe, de dois anos, nasceu após quatro horas de trabalho de parto normal.

A doula de Alexandra, Cristina Palzano Guimarães, 43, fisioterapeuta, explica o seu trabalho. “A doula deve ajudar a gestante a relaxar, com palavras de incentivo e exercícios físicos. Rebolar sobre a bola ajuda a encaixar o bebê. A massagem e bolsa de água quente ajudam a aliviar a dor e a água quente do chuveiro acelera o trabalho de parto”, disse. Para Cristina um dos partos mais emocionantes foi de uma gestante com deficiência visual. “Me sensibilizou muito, porque para ela era muito importante sentir o bebê sobre o seu colo”, contou.

Na maternidade do Hospital Universitário da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), que completou 14 anos neste sábado, já foram realizados 22.262 partos normais. “Nós procuramos o resgate da humanização do parto para a mulher ser protagonista do processo. Ela faz o próprio parto”, explicou Eli Camargo Siebert, chefe do serviço de obstetrícia da maternidade. “Também usamos métodos não-farmacológicos para aliviar a dor, como a bola embaixo do chuveiro e massagem [veja na foto acima]”.

Nos últimos três meses de gestação, o casal tem acompanhamento da equipe e faz visitas à unidade para se familiarizar com o ambiente. “Nesse período, o casal faz um cronograma e o planejamento de parto. Fazemos encontro de casais grávidos e depois há encontros dos pais e os bebês que nasceram aqui na maternidade”, disse Siebert. “O pai pode acompanhar o parto e a participação dele é muito emocionante para toda a equipe”.

Casas de parto

Em São Paulo, hospitais estaduais têm unidades anexas integrados ao SUS (Sistema Único de Saúde) para a realização de partos humanizados, chamadas casas de parto. Na Casa de Maria, anexa ao Hospital Santa Marcelina, no Itaim Paulista, são realizados em média 30 a 40 partos por mês. “A procura é baixa por falta de divulgação e pouca cultura de parto normal entre os profissionais de saúde”, afirmou o diretor técnico de obstetrícia, Marcos Wmawo.

Com base no modelo das casas de parto da Europa, Canadá e Japão, a Casa de Maria foi estruturada para que a mulher participar do parto e a família estar presente. De acordo com Wmawo, as pacientes são mulheres de classe média alta, bem informadas e com acesso à Internet. As equipes são formadas por enfermeiras obstetrícias, neonatologistas e pediatras.

As gestantes atendidas nas casas de parto são saudáveis e não apresentam fator de risco durante a gravidez. “A questão que envolve as casas de parto é a segurança, por isso muitas estão associadas ao hospital”, disse Eduardo Watanabe, obstetra do Hospital Santa Catarina. No Brasil, há resistência ao parto normal por um problema cultural”, explicou.

“A equipe está preparada para lidar com complicações médicas. A transferência para o hospital é questão de minutos”, afirmou Marcos Wmawo, da Casa de Maria. “A cultura da cesárea existe por comodidade. Muitas pacientes não questionam seus médicos se, de fato, não há a possibilidade de fazer parto normal”.

Rede particular

Os hospitais privados estão se adaptando para realizar partos humanizados. Os hospitais Santa Catarina, Albert Einstein, São Luís e ProMatre, todos em São Paulo, criaram salas adaptadas. “O aspecto da sala procura mimetizar o ambiente doméstico e se afasta do ambiente de uma sala cirúrgica. A iluminação é mais baixa e, no banheiro, tem uma banheira de hidromassagem”, explicou Watanabe. “O casal faz o planejamento do parto. A gestante pode estar acompanhada de uma doula desde que o hospital autorize”.

Mas as mães que não podem ter o bebê por parto normal, pode marcar uma cesárea natural. “Apesar de ser no centro cirúrgico, o ambiente da sala é mais humanizado, com música estilo new wave e iluminação baixa. Assim que nasce, o bebê fica no colo da mãe para ser amamentado e depois é colocado em um balde água aquecida com toda a equipe em silêncio para lembrar a vida uterina”.

PLANO DE PARTO.


Durante o pré-natal na Casa de Parto as mulheres são preparadas e trocam experiências nas oficinas, que são espaços educativos para a integração entre as gestantes e os profissionais, para o momento do parto. Ao final da gestação a gestante é estimulada a elaborar o seu plano de parto. O Plano de Parto vem a ser a idealização do que a gestante gostaria que acontecesse durante a sua estada na Casa de Parto. Costumamos dizer que se assemelha à programação de uma viagem. Quando sonhamos em viajar: primeiro escolhemos o local a ser visitado, o meio de locomoção, os acompanhantes dessa viagem, o vestuário, os objetos de uso pessoal,o roteiro, enfim tudo o que gostaríamos que acontecesse e que torna-se a nossa viagem a mais prazerosa possível. Assim, é o Plano de Parto. A gestante constrói de maneira livre, individualizada e criativa o seu planejamento. Na maioria das vezes, esse desejo é colocado em uma folha de papel, adornado com adesivos, pinturas, ou mesmo digitado. Existem Planos de Parto de infinitos modos, uns bem simples outros bem trabalhados. Mas o importante é que a mulher comece a pensar e idealizar o seu momento. Algumas solicitam uma música de sua preferência; um aroma; um ritual religioso, ou mesmo um amuleto. Escolhem a posição e o local de nascimento: cócoras, lateral, água, verticalizada. Nomeia as pessoas que a acompanharão, quem fará o corte do cordão umbilical, se desejam ser fotografadas ou filmadas. Enfim, é incentivado pela equipe da Casa de Parto o maior número de informações para que esse momento seja de celebração e de singularidade. No momento da internação esse Plano de Parto é lido pela equipe de plantão e dentro do possível é atendido em sua totalidade. Obviamente que este Plano não é rígido e pode ser alterado a qualquer momento pela cliente, e, caso algum item não possa ser atendido é feito uma pactuação na hora de como poderemos cuidar com segurança, e ao mesmo tempo com respeito ao desejo da mulher.

CASAS DE PARTO;

Somos um grupo de pessoas constituído de mulheres da sociedade civil, homens, profissionais de saúde ou não, mas que temos em comum a luta pelo direito à informação e escolha. Atualmente, falar em possibilidades de escolha no momento da parturição é tudo de bom! Vivenciamos momentos de muita violência física, psicológica e institucional às mulheres na hora do parto, um momento tão singular e marcante para a sua vida, de seu bebê e de toda a sua família. Ter a possibilidade de reverter esta realidade é por demais excitante para a sociedade brasileira. As Casas de Parto têm como propósito oferecer às mulheres e suas famílias a possibilidade de optarem por um parto mais individualizado, ou seja, centrado em suas expectativas e desejos. Resgatar a vivência do parto fisiológico, com a participação ativa da mulher, com a inclusão de seu companheiro, de seus filhos menores, favorecendo a celebração da vida. Por esses motivos aqui citados e na condição de acompanhantes e observadores do processo de mudança é prazeroso perceber que muito pode ser feito, utilizando recursos disponíveis e na maioria das vezes de pouca complexidade,porém com resultados de excelência para as gestantes sem risco gestacional. Assim nos reunimos e resolvemos criar este site como um espaço de reflexão, informação e divulgação de tudo o que vem acontecendo nas Casas de Parto no Brasil.


CASAS DE PARTOO ambiente como ferramenta facilitadora no trabalho de parto e parto Muitos aspectos do ambiente no acompanhamento do trabalho de pa

O ambiente como ferramenta facilitadora no trabalho de parto e parto

Muitos aspectos do ambiente no acompanhamento do trabalho de parto podem refletir as causas de estresse materno ocasionando aumento no número de horas em trabalho de parto, insegurança e resultados perinatais desfavoráveis. É sabido que mulheres que são acompanhadas em trabalho de parto em ambiente hospitalar sofrem um número de intervenções técnicas e invasivas infinitamente maior do que aquelas acompanhadas em ambiente não hospitalar. A atmosfera amistosa e descontraída de ambientes não hospitalares permite que a mulher e sua família vivenciem a experiência do parto como um processo natural e fisiológico, livre de rituais que não privilegiam a individualidade e desejo de cada mulher. Nas Casas de Parto, esse ambiente é construído a partir de uma decoração alegre, suave e que lembra muito uma casa comum. A começar pelas cores das paredes, música ambiente, brinquedos coloridos e cheiro de comida caseira exalando pela casa. Os profissionais recebem a clientela de maneira acolhedora, chamando a mulher pelo seu nome, iniciando um primeiro contato de forma a criar um vínculo. As consultas transcorrem da maneira mais informal possível para que se possa conhecer e identificar tudo o que possa subsidiar a construção do perfil de cada cliente. Uma característica central da casa de parto é o estímulo à presença do acompanhante, em todas as fases de atendimento, entendendo que esta pessoa da escolha da mulher pode oferecer apoio emocional e colaborar nos momentos de ansiedade, fortalecer vínculos afetivos e ajudar no entendimento da construção de um modelo de assistência ao parto que privilegia a família. Enkim (2000) relata que cinco estudos controlados compararam os efeitos do trabalho de parto e parto em instituições semelhantes às casas, isto é, casa de parto, ou centro hospitalares de parto,aos efeitos de uma enfermaria hospitalar convencional. Mais de 8000 mulheres participaram desses estudos. As mulheres que optaram pelo trabalho de parto e parto em casa de parto usaram em média, menos medicamentos analgésicos, menor probabilidade de uso de ocitocina, e elas tiveram uma chance ligeiramente maior de ficarem muito satisfeitas com sua experiência de parto

A VIDA FOI CRIADA POR DEUS PAI E PRECISAMOS ACREDITAR MAIS E ESCLARECER A NATUREZA É SABIA.

A “bobagem” do parto humanizado

Posted on 11 maio 2010

Texto de Renata Matteoni no blog Pipocando.

http://rematteoni.wordpress.com/2010/05/10/a-bobagem-do-parto-humanizado/

Esses dias o ilustríssimo senhor Alexandre Garcia, jornalista das antigas da Rede Globo e portanto um formador de opinião, fez uma crítica preconceituosa e sem qualquer embasamento sobre as políticas públicas do Ministério da Saúde em relação às gestantes HIV positivas e à humanização do parto.

Pra quem não ouviu nem leu a respeito, em resumo, Alexandre Garcia chama o parto humanizado de “bobagem” e de “maluquice” o fato de uma mulher HIV positiva engravidar.

Ambas as colocações, além de denotar total ingorância a respeito de políticas públicas, da lei e de direitos humanos expressamente reconhecidos pela nossa Constituição, são lamentavelmente preconceituosas e desrespeitosas. Obviamente causaram assombro e geraram repúdio por parte dos grupos ativistas.

É da primeira delas que quero falar. Em matéria de humanização do parto avançamos muito no Brasil e a atuação do Ministério da Saúde tem sido exemplar. Apesar de ainda causar reações preconceituosas, a bandeira da humanização já conta com diversos grupos ativistas bem organizados e atualmente com estudos científicos comprovando os vários benefícios da humanização, que felizmente se multiplicam exponencialmente.

A humanização é uma questão de saúde e segurança pública – hoje sabe-se que nossos genes sofrem influencia do ambiente, e que os períodos críticos para tanto são o pré-natal, o nascimento e as primeiras horas de vida. Em outras palavras, a forma como somos gerados e chegamos ao mundo pode ser determinante para nossa saúde física e emocional e para definir tendências comportamentais.

Diante da seriedade do tema, fico assustada não apenas com o fato de o Sr. Alexandre Garcia considerar a humanização uma “bobagem”, mas por colocar essa ideia da forma desrespeitosa como colcou, e ainda por cima através de uma grande veículo de comunicação. É irresponsável da parte um formador de opinião falar a respeito de algo que desconhece com base exclusivamente em preconceito.

Reproduzo a carta aberta de repúdio redigida pela Parto do Princípio, em que se questiona: “quem está brincando com a saúde?” Seria muito interessante ouvir uma reposta, não? Liberdade pressupõe responsabilidade, senhor jornalista.

Carta Aberta a Alexandre Garcia – Considerações sobre a “bobagem” do Parto Humanizado
Quem está brincando com a saúde?

Caro Sr. Alexandre Garcia,

Somos mulheres ativistas da Rede Parto do Princípio, uma rede nacional, com mais de 100 mulheres por todo o Brasil, que luta para que toda mulher possa ter uma maternidade consciente e ativa através de informação adequada e embasada cientificamente sobre gestação, parto e nascimento.

É com profundo pesar que recebemos em pleno dia das mães uma fala cheia de preconceitos sobre a maternidade em um veículo de comunicação pública.

Diante de sua fala, nota-se o profundo desconhecimento das políticas de controle de infecção hospitalar, como também da legislação que garante a toda mulher o direito à presença de um acompanhante de sua livre escolha no pré-parto, parto e pós-parto imediato. Não é só uma “bobagem” do Ministério da Saúde. É lei (Lei Federal n° 11.108 de 2005). Uma lei que vem sendo sumariamente descumprida por todo o país.

Transcrição realizada a partir do áudio disponível em:

http://cbn.globoradio.globo.com/colunas/mais-brasilia/MAIS-BRASILIA.htm

[...] eu tô criticando essa bobagem do Ministério da Saúde de parto humanizado… será que vão deixar entrar um pai na sala cirúrgica pra infectar a sala cirúrgica? O pai barbudo, cabeludo, bêbado, sei lá o quê, mas enfim… hã… vestido com… com poeira da rua numa sala cirúrgica? Isso é um absurdo. Ah, mas é o parto de cócoras… tudo bem, peça para sua mulher fazer um parto de cócoras pra ver o que vai acontecer com o joelhos dela, não é índia, nã… vão… vão acabar… É um sofrimento. Ah, porque as cesárias… eu disse olha… que ele mesmo concorda que o… o serviço público as cesárias só é feita [sic] em último caso… é parto normal normalmente… não precisa ficar anunciando que o hospital do Gama vai ter isso [...]“

Existem normas de controle de infecção hospitalar que devem ser cumpridas por toda a equipe de saúde, pelos pacientes e por seus acompanhantes. Independente se são “cabeludos”, “carecas” ou “barbudos”. Seguidas essas normas, não há porque restringir o acesso do acompanhante. O direito da mulher não pode ser violado a partir de discriminação, de preconceito.

Várias pesquisas comprovaram que a presença do acompanhante no parto proporciona uma série de benefícios como: maior sentimento de confiança, aumento no índice de amamentação, diminuição do tempo de trabalho de parto, menor necessidade de parto cirúrgico, menor necessidade de medicação, menor necessidade de analgesia, menores índices de escores de Apgar abaixo de 7, menor necessidade de parto instrumental, menores taxas de dor, pânico e exaustão, entre vários outros benefícios. Diante desses indícios, a Organização Mundial de Saúde (OMS) preconiza, desde 1996, a presença de um acompanhante para a parturiente.

E isso não é bobagem. São pesquisas científicas.

Hoje, existe a possibilidade da mulher escolher a melhor posição para o parto. De posse de evidências científicas, muitos profissionais não mais recomendam uma única posição, mas permitem que a mulher encontre a posição mais confortável para dar à luz. Para a posição de “cócoras”, que é como são chamadas algumas posições verticalizadas, existem apoios e banquetas. Há também muitas mulheres que conseguem ficar de cócoras sem comprometer os joelhos, mesmo as não-indígenas.

“[...] O ministério da saúde não fez só isso não. O Ministério da Saúde tá estimulando agora pessoa com HIV a engravidar. Eu duvido que o Ministério da Saúde vá fazer uma… uma cesária pela terceira vez numa mulher com HIV e respingar sangue nele pra ver o que vai acontecer. É uma… é uma maluquice. Tão fazendo uma brincadeira com a saúde… Tá lá escrito na instituição a saúde é direito de todos e dever do Estado. O Estado não está cumprindo seus deveres com a saúde… e os problemas são de gestão, são administrativos.[...]“

Atualmente, diante de assistência médica adequada, nós mulheres podemos ter uma gestação e um parto mais seguros tanto para nós, quanto para os bebês. Inclusive as mulheres HIV positivas. Existem protocolos, embasados cientificamente, para os atendimentos às soro-positivas que evitam a transmissão vertical do HIV. Todos nós temos direito à reprodução. Existem também protocolos de rotinas que protegem a equipe de saúde para que não tenham contato com sangue ou secreções; e de providências caso haja algum acidente. E isso não é maluquice. É biossegurança.

E se o Estado está tomando providências para que o pai mais “barbudo” possa acompanhar sua esposa no nascimento de seu filho, e para que pessoas como eu, como os soro positivos e até como você possam ter fihos e netos em segurança, isso não é “bobagem”, isso é dever do Estado.

Mas se o senhor ainda tiver críticas à “bobagem” do Parto Humanizado ou aos partos das mulheres soro positivas, por favor, embase suas considerações com argumentos fundamentados cientificamente. Porque disparar informações incorretas em meios de comunicação pública é anti-ético e um descalabro. E é vergonhoso.

Referências Bibliográficas:

BRÜGGEMANN, O. M.; PARPINELLI, M. A.; OSIS, M. J. D. Evidências sobre o suporte durante o trabalho de parto/parto: uma revisão da literatura. Cadernos de Saúde Pública, 21 (5): 1316-1327, Rio de Janeiro, 2005.

DRAPER, J. Whose welfare in the labour room? A discussion of the increasing trend of fathers’ birth attendance. Midwifery 13, 132-138, 1997.

GUNGOR, I.; BEJI, N. K. Effects of Fathers’ Attendance to Labor and Delivery on the Experience of Childbirth in Turkey. Western Journal of Nursing Research, vol 29; March, 2007.

KLAUS, M. H.; KLAUS, P. H. Seu Surpreendente Recém-Nascido. Porto Alegre: Artmed Editora, 2001.

MINISTÉRIO DA SAÚDE. Portaria MS/GM nº 2.616 de 12 de maio de 1998. Diário Oficial da União, 13 de maio de 1998.

MINISTÉRIO DA SAÚDE. Protocolo para prevenção de transmissão vertical de HIV e sífilis. Secretaria de Vigilância em Saúde, Programa Nacional de DST e Aids. Brasília, Ministério da Saúde, 2006.

NAKANO, A. M. S.; SILVA, L. A.; BELEZA, A. C. S.; STEFANELLO, J.; GOMES, F. A. O suporte durante o processo de parturição: a visão do acompanhante. Acta Paul Enferm 20(2): 131-7, 2007.

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE, Maternidade Segura, assistência ao parto normal: um guia prático. Genebra, 1996.

STORTI, J. P. L. O papel do acompanhante no trabalho de parto e parto: expectativas e vivências do casal. Dissertação (Mestrado em Enfermagem em Saúde Pública) – Departamento de Enfermagem Materno Infantil e Saúde Pública, Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, 2004.

ZHANG, J.; BERNASKO, J. W.; LEYBOVICH, E.; FAHS, M.; HATCH, M. C. Continuous labor support from labor attendant for primiparous woman: A meta-analysis. Obstetrics & Gynecology vol. 88 nº 4 (2), 1996.

LUZ ..........MUITA .....LUZ.


Dar à luz sem sentir dor
Por Carolina Cantarino

A anestesia obstétrica é um assunto polêmico desde suas primeiras utilizações ainda no século XIX. Polêmico porque associado a uma dor tida como única e diferente de todas as outras: a dor do parto. Na atualidade, uma série de movimentos sociais, baseados na idéia da humanização do parto, lutam contra os elevados índices de cesáreas realizadas no mundo todo e defendem o parto vaginal, além de suas modalidades alternativas (parto de cócocas, parto na água). É nessa seara – o parto “natural” - que a anestesia gera controvérsias: a dor é inerente ao parto? É necessário sofrê-la? Alguns rejeitam o uso da anestesia durante o trabalho de parto e o parto vaginal. Para outros, a humanização do parto pode significar alívio da dor através da administração da anestesia peridural.

“O certo é que, uma boa experiência de parto significa, dentre outras coisas, lidar com a dor normal inerente ao processo de abertura do cólo do útero e aliviar ou eliminar as dores desnecessárias, provenientes de tensões, medos, ambientes impróprios, manobras médicas discutíveis ou presença de pessoas indesejáveis”, definem as Amigas do Parto, site criado para tratar da assistência ao parto, que integra uma rede formada por uma série de outras iniciativas semelhantes como Parto Natural, Nosso Parto, Rehuna, Mães Ponderadas, etc.

Primórdios da polêmica

A utilização da anestesia durante o parto normal é controversa desde sua origem. A história da medicina registra que a primeira aplicação anestésica durante um parto normal foi realizada pelo médico inglês James Young Simpson em 1847. Segundo Donald Caton, professor do Departamento de Anestesiologia da Universidade da Flórida, controvérsias surgiram não só por razões religiosas mas porque não havia consenso entre os médicos sobre a segurança do procedimento, baseado na inalação de éter sulfúrico. Eles temiam os possíveis efeitos do éter sobre a criança, sobre as contrações uterinas (que, diminuídas, poderiam prejudicar o andamento do trabalho de parto) e a ocorrência de hemorragias e infecção.

Em artigo publicado no International Journal of Obstetric Anesthesia, Caton lembra que, a despeito da resistência no interior da medicina, a prática da anestesia durante o parto normal acabou sendo adotada, principalmente, pelas mulheres da elite inglesa. A própria rainha Vitória utilizou a anestesia em seu oitavo parto, realizado em 1853. O incipiente movimento feminista, que incluía na sua pauta de reivindicações, além do direito ao voto, maiores cuidados durante o parto (incluindo-se, vale lembrar, a hospitalização, já que, até então, o parto acontecia em casa e era realizado por parteiras), abraçou o uso da anestesia como sinal de aperfeiçoamento e melhoria nos cuidados médicos.

A medicalização do parto foi ganhando intensidade. No período entre-guerras, além da anestesia, práticas como o fórceps e a episiotomia (corte no períneo) eram rotineiras nos hospitais, assim como o uso de analgésicos e tranqüilizantes durante o trabalho de parto. “Depois da Segunda Guerra Mundial, contudo, o público desenvolveu uma crescente descrença em relação a procedimentos médicos invasivos e drogas associadas a problemas congênitos como o dietilstibestrol, a talidomida e a radiação iônica”, lembra Canon. Nesse contexto é que o método de outro médico britânico começa a ganhar espaço: em 1954, Grantly Dick-Read publica o livro Childbirth without fear (Nascimento sem medo) e passa a defender a realização de partos naturais sem qualquer anestesia.

Mas o que seria um “parto natural”? Segundo Dick-Read, do ponto de vista fisiológico a dor não pode ser considerada como “natural” ou constitutiva do parto. Segundo ele, as “mulheres primitivas” não sofriam durante o parto. A dor que as mulheres ocidentais costumam experimentar seria devido ao medo e à própria influência judaico-cristã da cultura, que associa o sexo ao pecado e, assim, a dor do nascimento à punição. Esse quadro de medo e ansiedade é que ativaria, segundo Dick-Read, reações nervosas, provocando o aumento das contrações uterinas e da dor.

“Como Simpson, Dick-Read apareceu diretamente para o público, sobre quem ele teve maior influência. Como Simpson, ele teve bem menos impacto entre os médicos”, afirma Caton, ao lembrar que muitos deles questionaram as bases científicas de sua teoria. Um dos que a contestaram foi o médico francês Fernand Lamaze que, a partir de técnicas baseadas na respiração e no relaxamento aprendidas com obstetras soviéticos, também defendia a realização do parto natural. Dick-Read, por sua vez, acusava Lamaze de ter roubados suas idéias e as distorcido.

A contenda entre os dois obstetras tornou-se, então, pública e, no contexto da Guerra Fria, a rivalidade entre o método inglês e o método russo extrapolou para o campo da política: em 1957, o Papa Pio XII resolve arbitrar a disputa e faz um discurso sobre o parto natural. Ele afirma que a dor está associada ao parto desde tempos imemoriais e que a Igreja não apresenta nenhuma objeção ao uso da anestesia. Pio XII contraria, assim, duas posições defendidas por Dick-Read, e diz que, pessoalmente, nota pouca diferença entre o método do médico inglês e o de Lamaze. Mas, por fim, afirma que, para as gestantes comprometidas com os valores cristãos, o melhor método é o inglês, por “ser menos materialista”.

Anestesia e humanização do parto

Feministas do século XIX lutaram pela extensão do uso da anestesia na obstetrícia numa época em que os médicos temiam seus possíveis efeitos durante o trabalho de parto e o parto vaginal. Um século depois, com novas técnicas e procedimentos anestésicos, muitas mulheres mudaram suas opiniões sobre o uso dessas drogas.

Ativistas defensoras do parto natural não abordam a questão da anestesia obstétrica e seus efeitos como um problema exclusivamente médico. “Por exemplo, elas não estão interessadas nos efeitos da anestesia no metabolismo do oxigênio do neonato ou na porcentagem de drogas que atravessam a placenta, alguns do problemas que concernem aos clínicos. Elas estão interessadas nos aspectos pessoais e sociais do parto: nos modos como a experiência da mulher durante o parto pode afetar as interações subsequentes com a família”, lembra Donald Caton, o que traz desafios para a própria relação entre médicos e parturientes.

A humanização do parto é tida, geralmente, pelos profissionais de saúde como sinônimo de acesso a certos procedimentos – como a própria anestesia de parto normal – antes restritos às pacientes dos hospitais e maternidades privados. A humanização, assim, passa a ser vista como acesso à anestesia peridural. A anestesia é legalmente prevista por portaria do Ministério da Saúde desde 1998 e deve ser paga pelo SUS. Mas, segundo Carmen Diniz, professora da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, “na prática a anestesia é inviabilizada pois o pagamento do procedimento 'parto' foi aumentado de valor, sem incluir honorários específicos para o anestesista”.

Diniz afirma que essa associação da anestesia peridural com a humanização do parto diz respeito à própria tradição hipocrática da medicina que, baseada na idéia de beneficência, vê a aplicação da anestesia como uma defesa das mulheres e de seu direito de não sentir dor. A assistência ao parto sem anestesia é associada à pobreza técnica do médico e à carência de recursos do hospital, que tem a obrigação de oferecer anestesia a todas as suas pacientes. “Então, a gente praticamente só conta com anestesista quando é cesárea. Raramente fazemos uma peridural humanitária, quando a paciente, às vezes uma adolescente, está muito descompensada. Já no consultório, fazemos analgesia em praticamente 100% dos partos vaginais”, afirma um médico entrevistado por Diniz.

A pesquisadora lembra que a dor do parto muitas vezes é amplificada por rotinas médicas como a imobilização, a manobra de Kristeller (pressão feita sobre o estômago supostamente para auxiliar o nascimento) e a episiotomia, entre outras práticas clínicas. Sendo assim, a experiência do parto, tanto para os profissionais de saúde como para a parturiente, é muito diferente com e sem a aplicação da anestesia peridural. “E suportar a dor da paciente, provocada pelos procedimentos que ele médico pratica, pode ser uma experiência muito penosa também para o profissional. A ponto de, em um estudo recente, a disponibilidade da anestesia peridural ser considerada pelos médicos o fator mais importante na lista de boas condições de trabalho do obstetra”, lembra Diniz, num artigo publicado na revista Ciência e Saúde Coletiva.

Disputa pela descoberta da anestesia

A primeira modalidade de anestesia com aplicação mais recorrente na medicina obstétrica foi a anestesia inalatória. Drogas como a morfina foram utilizadas com a intenção de promover um apagamento da experiência do parto, associado, então, a muito sofrimento e violência para a mulher. As mulheres davam à luz completamente inconscientes. Muitas eram amarradas às camas, pois sob efeito sedativo, se debatiam. Na década de 1920, Fernando Magalhães, considerado o pai da obstetrícia brasileira, foi um dos adeptos do chamado parto inconsciente.

A polêmica aplicação da anestesia obstétrica confunde-se, assim, com a própria história da anestesia. A descoberta da anestesia inalatória é oficialmente atribuída a William Thomas Green Morton, estudante da Faculdade de Medicina de Harvard que, em 1846, demonstrou publicamente o uso do éter sulfúrico como anestesia geral para a cirurgia. Quatro anos antes de Morton, Crawford Williamson Long já havia realizado pequenas cirurgias e partos com a utilização da inalação de éter como anestésico.

Antes de Long, Paracelso (1540) e Faraday (1818), dentre outros, já haviam observado a ação anestésica do éter. Mas nenhum deles o havia utilizado durante um ato cirúrgico. “Com o crescente conhecimento da fisiologia respiratória e a descoberta de novos gases e vapores, abriu-se caminho para o uso da via inalatória para a administração de drogas. Apesar de, nesse tempo, já se conhecerem relatos de injeções de drogas, sangue e cristalóide por via venosa em animais, a agulha oca ainda não havia sido inventada”, lembram Ricardo Maia e Cláudia Fernandes, em artigo sobre o surgimento da anestesia inalatória.

A inalação de óxido nitroso, conhecido como gás hilariante, foi um entretenimento circence comum no início do século XIX durante as chamadas laughing gas parties. Horace Wells, um dentista norte-americano, ao participar de uma dessas apresentações, notou que um dos participantes havia ferido a perna, mas, sob o efeito do gás, não sentia dor. Contatou o dono do circo e realizou experiências, em 1844, em seu consultório, com o óxido nitroso, outro método inalatório que também passou a ser utilizado.

Diante de tantas descobertas, quase simultâneas, sobre a anestesia inalatória, a prioridade da descoberta passou a ser disputada entre Long, Wells, Morton e seu professor em Harvard, Jackson, que também entrou na briga, que passou a ser arbitrada pelo Congresso americano. Existiram outras controvérsias. Apesar de comprovado os efeitos anestésicos do éter, Long, por exemplo, interrompeu suas experiências ao sofrer a perseguição dos moradores da pequena cidade onde morava (no estado da Geórgia), que consideravam o éter como uma “droga diabólica”. Privadamente, Long prosseguiu e administrou éter à sua esposa durante o seu segundo parto em 1845. É, por isso, considerado também um dos precursores da anestesia obstétrica.

TUDO É QUESTÃO VALORES.

Humanização do parto esbarra na cultura das cesarianas

Brasil carrega o triste título de recordista mundial em partos cirúrgicos, em parte por culpa da própria classe médica

Publicado em 29/03/2010 | Cecilia Valenza

Iniciativas para incentivar a humanização do parto são simples e na maioria das vezes baratas, mas ainda esbarram na cultura do parto cirúrgico. A inauguração da primeira banheira para parto na água de Curitiba, na semana passada, é um exemplo de que não é preciso muito investimento em estrutura ou equipamentos para garantir às mães o acesso a um parto seguro e com o mínimo de intervenção. Trata-se de uma banheira co­­mum, como a que qualquer pessoa pode ter em casa. Mesmo assim, a opção só está disponível em uma maternidade de Curitiba.

O exemplo ilustra a dificuldade de se superar a chamada cultura da cesariana. Apesar das constantes campanhas de incentivo ao parto natural, o Brasil ainda carrega o título de recordista em partos cesáreos. Eles representam 43% dos partos feitos no país, segundo o Ministério da Saúde, enquanto que a recomendação da Orga­­nização Mundial da Saúde é que essa porcentagem não ultrapasse os 15%.

Nos últimos anos, o governo brasileiro tem realizado uma série de ações e campanhas para tentar mudar esse quadro. No entanto, modificar a mentalidade de mães e médicos não é tarefa fácil, principalmente fora do sistema público de saúde. Cerca de 80% dos partos feitos por convênios ou particulares são cesarianas. “Há uma associação muito forte entre o parto natural e a dor. O medo de sentir dor é o principal motivo para as mães preferirem a cesariana. É preciso desmistificar isso, os conhecimentos fisiológicos avançaram muito e hoje é possível ter um parto natural, em um ambiente acolhedor com o mínimo de intervenção médica possível e sem dor, graças à analgesia”, afirma o diretor do departamento de ações programáticas e estratégicas em saúde do Ministério da Saúde, José Telles.

Além de vencer a resistência por parte das gestantes, é preciso enfrentar a outra ponta do problema: os médicos. É comum que muitos deles priorizem as cesarianas por questões de comodidade e economia de tempo. “É uma queixa frequente entre as gestantes o fato de querer o parto normal e não encontrar um médico que faça esse acompanhamento. A maioria tenta convencer a mãe a fazer uma cesárea”, conta Patrícia Bortolotto, uma das coordenadoras do Grupo Gesta Curitiba, que reúne gestantes para discussões de temas relacionados a maternidade e troca de experiências.

A engenheira mecânica Carolina Ribeiro, 34 anos, trocou de médico três vezes durante a gravidez. “Já estava com sete meses quando me convenci de que minha médica não era muito partidária da ideia de fazer um parto normal. Sempre que eu tocava no assunto ela dizia que era cedo para falar disso e não se mostrava muito entusiasmada”, conta. Descontente, ela decidiu trocar de médico. “Cheguei a ir a uma outra médica, mas também não gostei e no fim encontrei o médico que acabou fazendo meu parto. Ele é um defensor do parto natural e se dedica a isso. Foi muito tranquilo, meu parto durou 20 minutos, se tiver outro filho vou querer parto normal de novo”, diz a moça, que teve a primeira filha, Luize, em outubro do ano passado.

Para o obstetra Carlos Na­­varro, professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), a capacidade de reverter esse comportamento está nas próprias mulheres. “É preciso que elas se convençam das vantagens do parto natural e questionem o médico, não se acomodem”, defende. Em relação ao comportamento dos médicos, ele considera importante uma mudança na abordagem do tema desde a universidade. “Mudar a cabeça de quem já trabalha de uma certa maneira há muitos anos é difícil, por isso considero fundamental que os benefícios do parto normal sejam discutidos ainda na graduação, para que os novos médicos já tenham uma outra mentalidade”, afirma.

Para Telles, mudar uma cultura é algo que leva tempo, mas que é possível. “Veja o exemplo do alojamento conjunto. Antigamente o bebê era isolado da mãe e os pediatras defendiam que essa era a melhor conduta, hoje ninguém mais faz isso, o bebê é deixado o máximo de tempo possível com a mãe. Estamos trabalhando para que as maternidades se adequem às políticas de humanização, como a presença de um acompanhante ou adaptações físicas no ambiente de parto. São medidas simples, de baixo custo, mas que acabam tendo um impacto enorme”, afirma.

DOULAS SÃO MULHERES ESPECIAIS........CUIDADORAS CHEIAS DE AMOR.

Doulas Comunitárias: Humanização da assistência ao parto e nascimento

O Projeto Doulas Comunitárias, desenvolvido pelo Hospital Sofia Feldman em parceria com a Associação Comunitária de Amigos e Usuários do HSF, é pioneiro no Brasil como projeto hospitalar institucionalizado. Doula é uma palavra grega que significa "aquela que serve a outra mulher". Doulas são voluntárias da comunidade, que de segunda a segunda, 24 horas por dia, acolhem e acompanham as mulheres que vêm ao HSF em busca de assistência ao parto.

Baseado na literatura científica, tem como objetivo melhorar os indicadores assistenciais e os níveis de satisfação das usuárias e usuários. Priorizando as parturientes desacompanhadas, as doulas proporcionam apoio emocional, amparo e incentivo às mulheres em trabalho de parto e a seus familiares, estabelecem contato com os profissionais solicitados e, após o nascimento, incentivam a interação da mãe com seu bebê e a amamentação.

 A doula comunitária Terezinha cuida de uma mulher no pré-parto
A doula comunitária Terezinha cuida de uma mulher no pré-parto

O projeto, pioneiro no Brasil, começou em meados de 1997. Julia, coordenadora do setor de Psicologia e referência técnica do projeto das Doulas Comunitárias desde 2001, reitera a importância do apoio emocional e do suporte físico que essas mulheres proporcionam às parturientes. “A doula dessa instituição é uma mulher da comunidade, que a experiência delas vem da experiência de vida e de parturição. São mulheres capazes de proporcionar segurança a outra que está em trabalho de parto e durante o parto. Entendo perfeitamente que, para uma mulher ter um bom parto, ela precisa sentir-se segura”.

Mas o que deixa a mulher segura nesse momento? Segundo a psicóloga, depende. “A doula precisa ter sensibilidade para perceber as necessidades de uma mulher no parto. Algumas mulheres precisam apenas da presença de uma outra pessoa, outras gostam de ser tocadas, massageadas”, diz. “Ela atua bastante como interlocutora ou mediadora entre a parturiente e os familiares e a equipe de saúde. É uma pessoa que está próxima da usuária, mas também tem um contato com a equipe. Como parte integrante da equipe, tem uma presença efetiva do plantão – todos os plantões dessa maternidade têm a presença de pelo menos uma doula”.

Perfil e seleção das doulas

A porta de entrada das doulas é pela Associação Comunitária ou pelo SOS Saúde da Secretaria Municipal de Saúde. É realizada uma entrevista inicial com a candidata, primeiramente para saber a motivação para ser doula. “A própria equipe pode perceber que a acompanhante com uma característica de ser doula e convidou; perguntamos sobre a experiência de parto (é um dos quesitos mais importantes); a visão dessa mulher sobre parto (como ela vê a questão da mulher sentir dor no parto, quais suas necessidades). Conversamos sobre esses temas e percebemos se essa mulher tem um perfil para ser doula, que tem que ser tranqüila, firme, paciente”. A doula tem que despertar o empoderamento da mulher – sua capacidade de dar à luz. “A mulher precisa voltar a crer nessa capacidade e criar um ambiente saudável para que o parto possa acontecer”.

Selecionada, a doula passará por uma capacitação, na qual são oferecidos conhecimentos básicos sobre trabalho de parto, gestação e relações interpessoais. “Por lidar com diferentes tipos de pessoas, desde a parturiente e seus familiares a médicos e técnicos, a doula precisa saber transitar bem nesses ambientes, e entender qual é o papel dela, que é dar suporte físico e emocional à mulher. Esse lugar ficou um pouco vazio na história do parto dentro desse cenário institucional”.

A percepção das mulheres sobre o trabalho da doula é bastante positiva, contribuindo para a qualidade da assistência. Atualmente, existem 28 doulas em atividade no Hospital, que oferece uma ajuda de custo para ressarcir os gastos, e garantir efetividade. Uma delas é Dona Terezinha, que participou do projeto Mãe Substituta, durante dois anos. Após sua saída, foi convidada pela ACAU para fazer parte das Doulas Comunitárias. “Para mim, foi uma alegria muito grande, já queria ser doula. É um trabalho muito gratificante, muito bonita”. Teresinha conheceu o projeto após acompanhar uma amiga da família. Ela diz que a doula tem que respeitar a vontade da parturiente. “Às vezes, o contato com a parturiente continua após o parto. Algumas nos ligam meses depois, mandam fotos”.

Além do aumento da qualidade e na grande contribuição para a humanização do atendimento, a presença amigável e constante das doulas produz ainda os seguintes resultados:

• Redução do tempo de trabalho de parto;
• Redução do uso de medicação para alívio da dor
• Redução do índice de cesárea;
• Aumento da taxa de aleitamento materno, exclusivo ao seio;
• Resguardo de um tratamento individualizado personalizado à mulher, fortalecendo-a como cidadã diante do aparato médico-institucionalizado;
• Maior segurança e satisfação da mulher e de seus familiares durante o trabalho de parto e o puerpério, possibilitando singularidade e emoção no momento do nascimento de uma nova vida;
• Incentivo ao resgate da tradição, segurança e simplicidade do parto normal.

Fonte: http://www.lappis.org.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=1298&sid=1

MUITO INTERESSANTE.

Anvisa vai fiscalizar humanização do parto normal

Leia mais sobre Maternidade.
Publicado na Tuesday, 29 July 2008

O ótimo blog Mulheres de Olho publicou um artigo e entrevista sobre o assunto, interessantíssimo. Confiram:

Nesta terça-feira, 22, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária anunciou o lançamento da Resolução da Diretoria Colegiada (RDC nº 36), e da Instrução Normativa 02, publicadas no Diário Oficial de 4 de junho de 2008. São normas sobre como as unidades de atendimento obstétrico e neonatal -públicas, privadas ou conveniadas- devem proceder no caso do parto normal. Todas serão “orientadas a estimular a evolução natural do trabalho de parto e a adotar medidas para aliviar as dores da grávida, sem necessariamente usar medicamentos” (Agência Brasil).

Os benefícios anunciados não chegam a ser uma novidade e provocaram reações de descrédito: será que chegarão à vida real? Mulheres de Olho conversou com a médica pediatra Maria José Araújo, especialista em saúde da mulher e políticas públicas, que recuperou práticas do tempo da gestão Luiza Erundina à frente da prefeitura de São Paulo. E conversou também com Lena Peres, diretora do Departamento de Ações Programáticas e Estratégicas do Ministério da Saúde.

A notícia e o descrédito

Até 1º de dezembro todas as gestantes que optarem pelo parto normal terão direito garantido de:

  • acesso às condições adequadas para que isto se viabilize;
  • escolha da posição de parir, inclusive de cócoras, se não houver impedimento clínico;
  • ter acompanhante no trabalho de parto, durante o parto e no pós-parto imediato, o que significa ter pelo menos uma cadeira no quarto, ao lado do leito da parturiente;
  • no caso de nascimento prematuro e se for indicação médica, condições asseguradas para a prática do Método Canguru (em que o bebê fica aconchegado ao corpo da mãe ou do pai recebendo seu calor e afeto).

Os hospitais que forem construídos, ampliados ou reformados daqui por diante deverão se preparar para abrigar no máximo duas gestantes que tiveram parto normal por quarto, e para que o bebê fique alojado com a mãe, caso não haja indicação médica contrária. (…)”


Ontem vendo TV, eis que passa o vídeo da lindinha da Fernanda Lima numa campanha de incentivo ao parto normal. Me amarrei. Achei lindo e necessário. Dar a luz à gêmeos por meios naturais é uma vitória e isso a faz ser ainda mais admirada.

Me identifiquei de cara com o depoimento dela, mesmo porque também posso falar com propriedade sobre o assunto. Tive 3 filhos, todos por parto normal.
Enquanto boa parte das mulheres sentem medo do método natural, eu morria de medo de ter que fazer cesária. Já perdi a conta do quanto ouvi mães dizerem que vão optar pela intervenção cirúrgica, mesmo preenchendo todos os quesitos para que haja normal, simplesmente por puro medo da dor. Isso precisa mudar. Covardia não!

O momento é traumático? Sim, claro, não vou negar. Mas não é nenhum bicho de sete cabeças. Há truques para contornar isso e tirar de letra.
Quando se é mãe de primeira viagem, é natural ficar assustada e com medo. Em minha primeira experiência, quase esmaguei a mão da minha sogra a cada contração. Felizmente foram apenas 3 horas e meia de trabalho de parto. E olha que esse foi o meu tempo mais longo! :D

O segundo parto durou apenas duas horas, desde o instante que disse ao maridão “benhê, estou sentindo…tá na hora“. Eu já sabia o que estava por vir então estava bem melhor preparada. Soube que a respiração é um importante aliado no controle da dor. Ao sentir a contração vindo eu fazia a respiração cachorrinho – aquela dos soprinhos sucessivos e acelerados. Mal podia acreditar o quanto isso aliviava o incômodo da contração, que na verdade é a pior parte do parto, e não a passagem do bebê como muitas temem.
Algumas mães reivindicam o uso da anestesia pra driblar as contrações. É uma opção, mas não acho legal. Quando sentimos a contração vindo temos a certeza de que é o momento de fazer força. Estar anestesiada atrapalha um pouco esse processo, mesmo que o obstetra tome as rédias da situação e lhe oriente. Não aconselho. Parto normal é parto natural. Não é momento pra frescuras.

Já no meu terceiro filho tive que fazer certos malabarismos.
Como minha bolsa não estourou sozinha (em nenhum dos partos) tive que me fiar novamente no lance das vontades de ir ao banheiro. Vontade de fazer o nº 1, mas nada. Vontade louca de fazer o nº 2, mas também nada! Só então depois de várias idas frustradas ao banheiro, cai a ficha “poutz, é o nº 3 !!! “. Chamei meu marido, ele examinou… já estava com quase 4 cm de dilatação.
Legal. Eu morava à uns 70km da maternidade, em uma micro city (o que eu fazia lá já é outra história). Agora imagina aquelas cenas bem loucas de corridas para a maternidade. Pois é.
Meia-noite, estávamos a toda velocidade na rodovia BR 050. Não é coisa pra se orgulhar, mas whatever. As contrações estavam cada vez mais próximas, cerca de 2 minutos uma da outra… Eu, fazendo a tal respiração, segurando na “Nossa Senhora” – aquela alça que tem no teto acima da porta do carro – e tentando atender a ordem do marido pra NÃO fazer força! Chegamos ao hospital no gás. E foi no gás que já fui colocada na maca e direto pra sala de parto. Eu já estava subindo pelas paredes de vontade de fazer força, mas nem o obstetra e nem o pediatra estavam lá ainda.

Pausa para uma explanação. Quando sentimos contrações, é normal você se irritar até com o carinhoso “vai dar tudo certo” do marido. A vontade de mandar todo mundo tomar um refresco é normal. A coisa tende a piorar quando as contrações estão no ápice, você ainda não pode fazer força e tem uma enfermeira do teu lado perguntando seus dados para o preenchimento de uma ficha. Aí só sendo santa!

Mas voltando ao curso da história, numa questão de minuto, os médicos finalmente chegaram e pude então finalizar meu parto num sonoro “doutor, seguuura que aí vai muleque!!” Aí veio aquela coisinha feia mais linda do mundo que parou de chorar ao ouvir minha voz. Isso não tem preço…
E bati meu próprio recorde: 1 hora!! Imagina se eu tivesse um quarto filho? Se seguisse essa ordem, ia ser tipo assim “benhê, tá na h….nasceu!:D

O corpo humano é tão sábio, que permite as dores do parto até no momento do nascimento. Depois disso a mãe está inteira e revigorada pra cuidar do filhote. Na cesariana é o contrário. As dores vem depois do parto e a mãe tem bem menos disposição e condições pra curtir seu bebê nos primeiros dias.
Além disso, quem opta pelo parto normal corre menos risco de infecções e o corpo volta ao normal bem mais rápido, principalmente a barriga, pois como o útero não sofreu incisão, o retorno ao tamanho original é mais acelerado.
Se você planeja ser mãe e nada te impedir de dar à luz por vias normais, faça! Você saberá realmente o que é se sentir plena, poderosa e heroína. Eu incentivarei sempre!

Pra finalizar, separei esse vídeo que mostra a perfeição desse momento.


QUANTO MAIS MELHOR.


ocê sabe o que é parto humanizado?


Cesarianas sem necessidade, antes da bolsa romper, sem respeitar o tempo natural do trabalho de parto; drogas colocadas no soro da gestante sem que ela seja consultada; não respeitar à lei que garante a mulher o acompanhante que quiser durante o parto; estes e outros crimes físicos e psicológicos fizeram que eu me conscientizasse de mais um problema do mundo moderno em que vivemos: a falta de autonomia da mulher durante um dos momentos mais importantes da sua vida, que é o nascimento de seus filhos.
A violência explode da sociedade para dentro da sala de parto. Ela está presente no atendimento à parturiente. Sabe-se que a violência se manifesta não só por atos de agressão física. Ela tem seu início em palavras e frases.
Quando a mulher reclama das dores escuta invariavelmente uma frase: "Estava bom na hora de fazer, agora agüenta", além de outras agressões verbais. É isso que a sociedade moderna e tecnológica nos oferece? E eu não me informei disso tudo com senhoras desocupadas que sempre que vêem uma mulher grávida contam uma triste história, ou outras pessoas que tenham o infeliz interesse de narrar o parto como uma experiência trágica, e não uma dádiva. Foram mães, amigas minhas, que passaram por experiências terríveis (em hospitais caros e médicos particulares), enfermeiras obstetras com mais de 40 anos de trabalho na área, psicólogos e médicos com renome internacional e, o mais importante, humanizados. Se vocês precisam de todos estes argumentos para acreditar que é muito melhor que uma criança nasça em casa e de maneira natural, tudo bem, justificativas tem várias. Mas o que abriu meus olhos foi saber que existe um movimento como esse, do parto humanizado, que luta contra às injustiças feitas com as mulheres e propõe a maneira mais bonita e verdadeira de um filho nascer. O parto humanizado garante a posição que a mulher quer parir, quem vai estar com ela, o local que ela vai escolher, a ausência do uso incorreto de medicamentos e anestesias, a total liberdade de movimentos até o bebê nascer, a ingestão de líquidos e comidas se for sua vontade, não fazer a dolorida e não necessária lavagem estomacal antes do trabalho de parto, ter o acompanhamento de uma doula (tipo especial de enfermeira) que pode aplicar massagens, relaxamentos e deixar a mulher mais segura e confiante, entre outras coisas.
Médicos que mentem durante todo o pré-natal, afirmando que o bebê vai nascer corretamente, sem estímulos artificiais, cesáreas forçadas, métodos doloridos para que tudo acabe rápido, está sendo o mais comum atualmente.
Pela OMS (Organização Mundial da Saúde) o índice recomendado de cesarianas é de 15%, mas no Brasil o “normal” é esta porcentagem variar entre 80% e 90%. É mais rápido para o médico, mais fácil, ele e o hospital vão ganhar mais dinheiro do que se fosse parto vaginal, vai poder agendar outras cirurgias pro mesmo dia e não perder tempo com gestante nenhuma. Mas afinal, de quem é o parto? Do médico que quer o benefício para si mesmo ou da mãe e do bebê que são os que realmente dão à luz?
No SUS acontece diferente, já que é mais caro para o governo uma cesariana, o médico e o hospital público que a evitar e realizar parto normal ou cirurgia só mesmo se precisar, recebem pelo seu trabalho, os que passarem do índice recomendado de cesáreas ficam sem o pagamento. É triste pegar eles pelo bolso, e não pela consciência.
Na Europa o controle de cesáreas sem necessidade real é bem mais rígido, e o parto domiciliar já é uma idéia aceita como o melhor a se fazer. É claro que o trabalho de parto pode ser difícil, e, frente a qualquer complicação previamente constatada, a mulher vai para um hospital e, se precisar, realiza uma cesariana. Só que a exceção já virou regra, e existem gestantes tão condicionadas ao sistema mentiroso em que vivemos, que não questionam seu médico, não pesquisam sobre os errados mitos do parto natural e domiciliar, se deixam serem enganadas e depois vivem frustradas porque percebem que algo não saiu como o esperado. Mas também tem aquelas que o modelo de vida artificial é considerado como o certo, então marcam uma cesárea para escolher o signo do filho como se marcassem uma hora no cabeleireiro. E isso não é piada, deu na Rede Globo, no programa da Ana Maria Braga, como se fosse a coisa mais normal do mundo.
Este artigo pode ser polêmico para alguns que nunca pensaram com atenção sobre este assunto, ou não estão nem aí com os direitos das mulheres. Para outros é mais um grito contra as mentiras do sistema, que tanto nos massacra. Mas o mais importante é que ele abra os olhos das mulheres que já são mães ou ainda vão ser, e ajude na luta destas que passam caladas por injustiças médicas e hospitalares.
Para uma informação muito mais completa, pesquise em:
www.amigasdoparto.com.br
www.partohumanizado.com.br
www.partodoprincipio.com.br

MAIS HUMANIZAÇÃO.

O que é parto humanizado

Uma importante questão a ser esclarecida é que o termo "Parto humanizado" não pode ser entendido como um "tipo de parto", onde alguns detalhes externos o definem como tal, como o uso da água ou a posição, a intensidade da luz, a presença do acompanhante ou qualquer outra variável. A Humanização do parto é um processo e não um produto que nos é entregue pronto.

Acredito que estamos a caminho de tornar cada vez mais humano este processo, isto é, tornar cada vez mais consciente a importância de um processo que para a humanidade sempre foi instintivo e natural e que por algumas décadas tentamos interfirir mecanicamente, ao hospitalizarmos o nascimento e querer enquadrar e mecanizar em um formato único as mulheres e o evento parto.

O termo “humanização” carrega em si interpretações diversas. A qualidade de “humano” em nossa cultura quase sempre se refere à idéia arraigada na moral cristã de ser bom, dócil, empático, amável e de ajudar o próximo. Nesse contexto, retirar a mulher de seu “sofrimento” e “acelerar” o parto através de medicações e de manobras técnicas ou cirúrgicas e é uma tarefa nobre da medicina obstétrica e assim vem sendo cumprida.

Mas há um porém neste tipo de intervenção. Um olhar mais atento na prática atual da assistência ao parto revela uma enorme contradição entre as intervenções técnicas ou cirúrgicas e as suas conseqüências no processo fisiológico do parto e na saúde física e emocional da mãe e do bebê. Um olhar ainda mais atento nos processos culturais, emocionais, psíquicos e espirituais envolvidos no parto revelam novos e norteadores horizontes, tal qual a importância, para mãe e filho, de vivenciar integralmente a experiência do parto natural.

A qualidade de humano que se quer aqui revelar envolve os processos inerentes ao ser humano, os processos pertinentes ao ciclo vital e a gama de sentimentos e transformações que a acompanham. O processo de nascimento, as passagens para a vida adolescente e adulta, a vivência da gravidez, do parto, da maternidade, da dor, da morte e da separação são experiências que inevitavelmente acompanham a existência humana e por isso devem ser consideradas e respeitadas no desenrolar de um evento natural e completo como é o parto. Muitas e muitas mulheres ao relatarem seus partos via cesariana mostram a frustração de não terem parido naturalmente, com as próprias forças, os seus filhos. Querem e precisam vivenciar o nascimento de seus filhos de forma ativa, participativa, inteira. Viver os processos naturais e humanos por inteiro muitas vezes envolve dor, incômodo, conflito, medo. Mas são estes mesmo os “portais” para a transição, para o crescimento, para o desenvolvimento e amadurecimento humano.

A humanização proposta pela ‘humanização do parto’ entende a gestação e o parto como eventos fisiológicos perfeitos (onde apenas 15 a 20% das gestantes apresentam adoecimento neste período necessitando cuidados especiais), cabendo a obstetrícia apenas acompanhar o processo e não interferir buscando ‘aperfeiçoá-lo’.

Humanizar é acreditar na fisiologia da gestação e do parto.
Humanizar é respeitar esta fisiologia, e apenas acompanhá-la.
Humanizar é perceber, refletir e respeitar os diversos aspectos culturais, individuais, psíquicos e emocionais da mulher e de sua família.
Humanizar é devolver o protagonismo do parto à mulher.
É garantir-lhe o direito de conhecimento e escolha.

Eleonora de Moraes

SOU UMA DOULA COM GRANDE SATISFAÇÃO E AMORRRRRRR.

O que é Doula?

A palavra “doula” vem do grego e significa “mulher que serve”, sendo hoje utilizada para referir-se à mulher sem experiência técnica na área da saúde, que orienta e assiste a nova mãe no parto e nos cuidados com bebê. Seu papel é oferecer conforto, encorajamento, tranqüilidade, suporte emocional, físico e informativo durante o período de intensas transformações que está vivenciando.

Antigamente o nascimento humano era marcado pela presença experiente das mulheres da família: irmãs mais velhas, tias, mães e avós acompanhavam, instruíam e apoiavam a parturiente e recém mãe durante todo o trabalho de parto, o próprio parto e os cuidados com o recém-nascido.

Atualmente os partos acontecem em ambiente hospitalar e rodeado por especialistas: o médico obstetra, a enfermeira, o pediatra... cada qual com sua especialidade e preocupação técnica pertinente. O cuidado com o bem estar emocional da parturiente acabou ficando perdido em meio ao ambiente impessoal dos hospitais, tendendo a aumentar o medo, a dor e a ansiedade daquela que está dando a luz e consequentemente aumentando as complicações obstétricas e necessidade de maiores intervenções.

A doula veio justamente para preencher esta lacuna, suprindo a demanda de emoção e afeto neste momento de intensa importância e vulnerabilidade. É o resgate de uma prática existente antes da institucionalização e medicalização da assistência ao parto, e que passa a ser incentivada agora com respaldo científico.

Os resultados deste apoio vêm trazendo revelações surpreendentes na redução das intervenções e complicações obstétricas, bem como facilitando o vínculo entre mãe e bebê no pós-parto.

O que a doula faz?

· Oferece suporte emocional através da presença contínua ao lado da parturiente, provendo encorajamento e tranqüilidade, oferecendo carinho, palavras de reafirmação e apoio. Favorece a manutenção de um ambiente tranqüilo e acolhedor, com silêncio e privacidade.

· Oferece medidas de conforto físico através de massagens, relaxamentos, técnicas de respiração, banhos e sugestão de posições e movimentações que auxiliem o progresso do trabalho de parto e diminuição da dor e desconforto.

· Oferece suporte informativo explicando os termos médicos e os procedimentos hospitalares. Antes do parto orienta o casal sobre o que esperar do parto e pós parto. Explica os procedimentos comuns e ajuda a mulher a se preparar física e emocionalmente para o parto, das mais variadas formas.

· Também atua como uma ponte de comunicação entre a mulher, sua família e a equipe de atendimento, fazendo os contatos que a mulher desejar.

· A doula se faz importante até mesmo num parto cesárea, onde continua dando apoio, conforto e ajudando a mulher a relaxar e tranqüilizar-se durante a cirurgia.

· Pode estar presente no pós-parto, auxiliando a mãe no seu contato com o recém-nascido e com a amamentação.

O que a doula não faz?

· Não realiza qualquer procedimento médico ou clínico como aferir pressão, toques vaginais, monitoração de batimentos cardíacos fetais, administração de medicamentos.

· Não é sua função discutir procedimentos com a equipe ou questionar decisões.

· Não substitui qualquer dos profissionais tradicionalmente envolvidos na assistência ao parto.

· Não substitui o acompanhante escolhido pela parturiente. Nesse caso a doula orienta o pai ou acompanhante a ter uma participação mais ativa no processo, sugerindo formas de prestar apoio e dar conforto à mulher.

Vantagens

Klaus e Kennel publicaram em 1993 em “Mothering the mother“(13) um estudo onde apontaram os resultados globais da presença da doula no trabalho de parto e parto, como pode ser visto abaixo:

· Redução de 50% nos índices de cesarian

· Redução de 25% na duração do trabalho de parto

· Redução de 60% nos pedidos de analgesia peridural

· Redução de 30% no uso de analgesia peridural

· Redução de 40% no uso de ocitocina

· Redução de 40% no uso de fórceps

Outros estudos (8-12) também mostram claramente que a presença da doula no pré-parto e parto trazem benefícios de ordem emocional e psicológica para mãe e bebê, incluindo resultados positivos nas 4ª a 8ª semanas após o parto:

· Aumento no sucesso da amamentação

· Interação satisfatória entre mãe e bebê

· Satisfação com a experiência do parto

· Redução da incidência de depressão pós-parto

· Diminuição nos estados de ansiedade e baixa auto-estima

As revisões da literatura científica elaboradas pelo notório grupo científico da Cochrane Collaboration’s Pregnancy and childbirth Group(3,4) inclui e valida diversos estudos abrangendo uma grande diversidade cultural, econômica e com diferentes formas de assistência. Confirma claramente que a presença da doula no suporte intra-parto contribui para a melhora nos resultados obstétricos, diminui as taxas das diversas intervenções e promove a saúde psico-afetiva da mãe e do vínculo mãe-bebê.

O mesmo grupo, em sua revisão publicada em 1998 declarou: “Devido aos claros benefícios e nenhum risco conhecido associado ao apoio intra-parto, todos os esforços devem ser feitos para assegurar que todas as mulheres em trabalho de parto recebam apoio, não apenas de pessoas próximas, mas também de acompanhantes especialmente treinadas. Este apoio deve incluir presença constante, fornecimento de conforto e encorajamento.” (4)

Atualmente a atuação da doula é reconhecida e recomendada pela OMS (Organização Mundial da Saúde) e pelo Ministério da Saúde.

Como ter uma doula no seu parto? (clique aqui)

texto elaborado por Eleonora de Moraes

Bibliografia

1. Apostila do CURSO de doulas: Associação Nacional de doulas. [S.l.,s.d.].

2. Chammers B, Wolman W. “Social support in labor: a selective review”. J Psychosom Obstetric Gynaecol 1993 March; 14(1):1-15.

3. Hodnett ED, Gates S, Hofmery G J, Sakala C. “Continuous support for women during childbirth” (Cochrane Review) In: The Cochrane Library, Issue 3, 2003.

4. Hodnett ED.“Support from caregivers during childbirth” (Cochrane Review) In the Cochrane Library, Issue 2. Oxford Update Software, 1998. Update quaterly.

5. Klaus MH, Kennel JH, Robertson S, Sosa R. “Effects of social support during parturition on maternal and infant morbidity.” Br Med J1986 sept.; 293-585.

6. Kennel JH, Klaus MH, Mcgrath S, Robeterson S, hinkley C. “Continuous emocional support during labor in US Hospital.” JAMA 1991 May; 265: 2197-201

7. Leão MRC, Bastos MAR. “Doulas apoiando mulheres durante o trabalho de parto: uma experiência do Hospital Sofia Feldman.” Revista Latina Americana de Enfermagem, Maio 2001, vol.9, no.3, p.90-94. ISSN 0104-1169.

8. Sosa R, Kennel JH, Klaus MH, Roberteson S, Urrutia J. “The effects of a supportive companion on perinatal problems, length of labor, and mother-infant interaction.” N Engl J Med 1980 Sept.; 303:597-600.

9. Garcia C. “The eigth Doula study: social support during birth in Mexico.” Conference proceedings of Doula of North America, Austin, TX, June 20, 1997, 89-93.

10. Hofmayer J, et al. “Companionship to modify the clinical birth envoirment: effects on progress and perceptions of labor and breast-feeding.” Br J Obstet, 98:756-764, 1991.

11. Landry SH, et al. “Effects of Doula support during labor on mother-infant interaction at two months.” Pediatric Res, 43:13A, 1998.

12. Wolman WL, et al. “Postpartum depression and companionship in the clinical birth envoirment: a randomized, controlled study.” Am J Obstet Gynecol, 168: 1388-1393, 1993.

13. Klaus M, Kennel J. “Mothering the mother: how a doula can help you to have a shorter, easier and healthier birth.” Hardcover

14. Fadynha. “A doula no parto: o papel da acompanhante no parto especialmente treinada para oferecer apoio contínuo físico e emocional à parturiente.” São Paulo:Ed Ground, 2003.

Código de Ética da Doula

I.Regras de Conduta

A. Atitude: A doula deve manter padrões elevados de conduta pessoal na capacidade ou identidade como provedora de apoio ao trabalho de parto.

B. Competência e Desenvolvimento Profissional: A doula deve buscar se manter competente na prática profissional e na sua performance das funções profissionais através de educação continuada, afiliação em organizações relacionadas e associação com outros provedores de cuidados para o trabalho de parto e parto.

C. Integridade: a doula deve agir de acordo com os mais elevados padrões de integridade profissional.

II. Responsabilidade Ética com as Clientes

A. Prioridade dos Interesses da Cliente: A responsabilidade primeira da doula é com as clientes

B. Direitos e Pregorrativas das Clientes: A doula deve fazer todo o esforço para formentar o máximo de autodeterminação por parte das clientes.

C. Confidencialidade e Privacidade: A doula deve respeitar a privacidade das clientes e guardar em confiança toda informação obtida durante o período de serviço profissional.

D. Dever de servir: A doula deve dar assistência a cada cliente que busque apoio no trabalho de parto, seja oferecendo serviços ou indicando referências apropriadas.

E. Confiabilidade: Quando a doula concorda em trabalhar com uma cliente em particular, sua obrigação é fazê-lo em confiança, sem falhar, pelo termo de acordo.

F. Honorários: Ao estabelecer o preço dos honorários, a doula deve assegurar que seu preço seja justo, razoável, considerando os serviços realizados e a habilidade da cliente em poder pagar. A doula deve claramente estabelecer seu preço para a cliente, descrevendo os serviços, termos de pagamento e políticas de reembolso.

III. Responsabilidade Ética com seus Colegas

A. Respeito, Justiça e Cortesia: A doula deve tratar seus colegas com respeito, cortesia, justiça e bondade.

B. Lidando com as clientes dos colegas: A doula tem responsabilidade para se relacionar com as clientes dos colegas com consideração profissional integral.

IV. Responsabilidade ética com a Profissão de Suporte no Trabalho de Parto

A. Manter a Integridade da profissão: A doula deve preservar e aumentar os valores éticos, conhecimento e missão de profissão.

B. Serviços Comunitários: A doula é encorajada a dar assistência na visão da ANDO de “uma doula para cada mulher que queira” reduzindo os custos ou não cobrando os serviços de suporte no trabalho de parto sempre que possível.

V. Responsabilidade ética com a Sociedade

A. Promovendo Bem-estar Materno Infantil: A doula deve promover a saúde geral de mulheres e seus bebês, sempre que possível, assim como de sua família e seus amigos.

Fonte: ANDO (Associação Nacional de Doulas), Apostila Curso de Doulas

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