quinta-feira, 1 de julho de 2010


“Mães Canguru: o melhor para os prematuros”

Bebés prematuros ganham mais peso e têm mais hipóteses de sobreviver quando passam o dia, pele com pele, no peito da mãe. O pediatra que criou e divulgou o Método Canguru por todo o mundo diz que não há melhor médica do que a mãe.

O chamado Método Canguru faz 30 anos em Setembro e ajudou a salvar milhares de bebés prematuros em todo o mundo. Consiste em colocar o bebé, depois de este ter atingido uma situação clínica estabilizada e independentemente do seu peso, junto do peito da mãe. O bebé está despido, apenas com a fralda, e a mãe sem soutien de forma a aumentar o contacto pele com pele e facilitar a amamentação. Coloca-se uma faixa que ajuda a manter o bebé seguro e a mãe veste uma camisa aberta, deixando apenas a cabeça do bebé de fora.

Inúmeros estudos ao longo dos anos têm demonstrado como este método aumenta as hipóteses de sobrevivência dos bebés, que ganham peso de forma mais rápida e regular. As taxas de infecção são mais reduzidas quando este contacto entre mãe e bebé é promovido. Em alguns hospitais o método é aplicado também com o pai.

Aproximar em vez de afastar
Tudo começou na Colômbia, com a iniciativa de dois médicos que sentiam enormes dificuldades devido aos poucos recursos que tinham na sua unidade de neonatologia. As recomendações médicas indicavam, na altura, que a melhor forma de promover o desenvolvimento de um bebé prematuro e aumentar as suas hipóteses de sobrevivência era o isolamento dos bebés. As modernas incubadoras asseguravam, acreditava-se, o melhor ambiente para os bebés de baixo peso. As mães nem sequer podiam entrar nas UCIs, como forma de reduzir o risco de infeccções.

Mas no Instituto Materno Infantil de Bogotá, as carências eram maiores do que o avanço tecnológico. Héctor Martínez e Edgar Rey Sanabria, dois neonatologistas a braços com uma baixa taxa de sobrevivência, decidiram experimentar um método que tinha tanto de revolucionário como de ancestral.

A grande vantagem é que não implicava investimento financeiro. Começaram a promover o contacto com as mães e a mandar os bebés para casa assim que estivessem estáveis. Os resultados começaram a ser animadores. Então decidiram começar a colocar os bebés no peito das mães, pele com pele, no hospital.

Em vez da separação protagonizada pela medicina moderna, receitaram o calor da mãe, e incentivaram um contacto o mais próximo e permanente possível. Os resultados foram mais positivos do que alguma vez esperaram.

Nos anos que se seguiram, os médicos tiveram muitas dificuldades para provar que o método tinha resultados muito melhores do que as práticas aplicadas então nos mais modernos hospitais do mundo. Mas conseguiram. Hoje o Método Canguru está presente em mais de 80 países.

Um método desenhado pela natureza
Os três princípios que sustentam os bons resultados são o calor da mãe, o leite materno e a vinculação. Héctor Martínez continua hoje a viajar pelo mundo fazendo conferências sobre as vantagens deste método. Para ele, «este é o método que a natureza criou para a sobrevivência das suas crias».

O principal erro que tem encontrado na sua aplicação tem a ver com intervenção e controlo excessivo por parte dos profissionais de saúde: «Após mais de um milhão de anos a criar os seus filhos, as mães têm agora quem queira dar-lhes um manual de criação e dizer-lhes o que devem fazer – quando a mãe é, por natureza, a melhor médica, enfermeira, educadora, estimuladora e psicóloga», afirmou em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo.

O que ganham os bebés
Entre as vantagens deste método, aplicado em Portugal em várias unidades de neonatologia, salientam-se:

# estimulação do contacto precoce da mãe (ou pai), com o recém-nascido;
# promoção do vínculo afectivo;
# diminuição do tempo de separação do recém-nascido com a família;
# regulação térmica da criança;
# diminuição da taxa de infecções hospitalares;
# diminuição do tempo de internamento;
# promoção da confiança e competência dos pais no cuidado ao seu filho;
# estimulação do aleitamento materno.

Fonte: Sociedade Portuguesa de Neonatologia

Texto: Ana Esteves
Revista IOL Mãe
2009/08/10

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